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A crise silenciosa dos homens da Geração Z no mercado de trabalho

A inteligência artificial, ao lado de mudanças estruturais nos setores de maior crescimento, é um dos principais motores dessa tendência

O mercado de trabalho brasileiro e global vive transformações profundas desde a pandemia. Entre os efeitos mais surpreendentes, está uma mudança que desafia a percepção comum de desigualdade de gênero: jovens homens da Geração Z (nascidos entre 1997 e 2012) estão enfrentando mais dificuldades para conseguir emprego do que suas colegas mulheres. E a inteligência artificial, ao lado de mudanças estruturais nos setores de maior crescimento, é um dos principais motores dessa tendência.

De acordo com dados divulgados pelo Business Insider, a taxa de desemprego entre homens recém-formados vem sendo mais alta do que a das mulheres desde 2020. Elise Gould, economista sênior do Economic Policy Institute, aponta que a baixa rotatividade e a retenção de profissionais em setores-chave tornam a disputa mais acirrada para quem busca oportunidades em áreas com poucas vagas.

Setores em expansão favorecem mulheres

O avanço feminino está ligado, em grande parte, à forte presença em áreas como saúde, hospitalidade e educação — segmentos que têm registrado crescimento constante de vagas. Já setores tradicionalmente masculinos, como tecnologia, consultoria e análise de dados, apresentam ritmo de contratação mais lento.

Dados do Bureau of Labor Statistics mostram que, enquanto os empregos nessas áreas se mantêm estagnados, o desemprego entre recém-graduados nos Estados Unidos subiu de menos de 5% para 7% no último ano, segundo análise do Financial Times.

O papel da inteligência artificial

Outro fator que dificulta a entrada de jovens homens no mercado é a redução de posições de entrada em setores de tecnologia e finanças, em boa parte devido à automação. A adoção de ferramentas de IA por grandes empresas tem eliminado funções antes destinadas a iniciantes, permitindo que equipes reduzidas mantenham ou ampliem sua produtividade.

Os próprios líderes das gigantes de tecnologia reconhecem a mudança: Satya Nadella (Microsoft) e Sundar Pichai (Google) afirmam que a IA já é responsável por cerca de 30% do código produzido em suas empresas. Na Amazon Web Services, há alertas sobre a menor necessidade de programadores humanos, enquanto Mark Zuckerberg, da Meta, admitiu que a companhia substituiu desenvolvedores intermediários por ferramentas automatizadas. O cenário é ainda mais amplo: o CEO da Anthropic prevê que, em até cinco anos, a IA pode eliminar uma em cada duas funções de entrada no setor administrativo.

Impactos para empresas e políticas de contratação

Para empresas, essa transformação traz desafios e oportunidades. Em um mercado que busca inovação e diversidade geracional, pode haver uma oferta abundante de jovens homens qualificados em áreas técnicas — justamente os mais afetados pela desaceleração nas contratações.

Se o objetivo é manter equipes equilibradas e adaptadas às mudanças do mercado, gestores podem precisar rever políticas de contratação e desenvolvimento, considerando ajustes para absorver talentos que hoje encontram barreiras de entrada.

Mais do que uma questão de equidade, trata-se de aproveitar uma reserva estratégica de profissionais que, embora altamente capacitados, estão sendo deixados à margem por tendências tecnológicas e setoriais.

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